Comece a se destacar como músico

Certa vez, quando eu estava com 13 pra 14 anos sonhando em ser violonista, alguém me disse: “se você quer tocar de verdade, eleja um grande músico para ter como referência e beba em sua fonte”. E completou: “não se pode criar algo novo partindo do vazio”.

Comece a se destacar como músico

Até hoje essas palavras ecoam em mim. Tentei lembrar quem tinha falado, mas não consegui. Só sei que foi em um curso de verão na Escola de Música de Brasília, no ano 2000, quando estudei harmonia e improvisação com Lula Galvão. De alguma maneira eu já fazia isso, ao tentar tirar de ouvido os discos de vinil que meu pai tinha lá em casa. Mas depois dessas palavras, segui o conselho de maneira fiel.

Elegi então Raphael Rabello como meu guru musical. É claro que à medida que ouvimos e conhecemos mais sobre música, entendemos que não existe aquele que seja o melhor. Cada um tem seu lugar e seu momento. São tantos gênios que senti dificuldade em escolher apenas um. Mas para mim, Raphael tem tudo de mais exuberante em matéria de violão. Seu som é encorpado, limpo, vivo e emocionante. Seu repertório é sempre bem escolhido. Seus arranjos e transcrições são de um bom gosto insuperável. De sobra, tinha o dom de criar versões para obras de outros compositores que se tornavam mais lindas do que as originais. Aí estava tudo que eu queria! Técnica apurada e interpretação com alma e suingue.

Quando penso no caminho que é preciso trilhar para ser um bom músico, faço um paralelo com o processo de aprendizagem de uma nova língua. Começamos repetindo o que as pessoas falam, para depois criar nossos próprios diálogos. A música, sendo a linguagem dos sentimentos, também exige muita repetição. O primeiro passo nessa jornada é dissecar a obra do guru musical que você escolher. É importante copiar a sonoridade, os arranjos, os improvisos, tudo! Você pode me indagar: “e o que se ganha com isso, já que estarei repetindo algo que já foi feito? Corro o risco de virar um rec-repete?”. Não existe esse risco.

Ao imitar um grande músico, além desenvolver sua percepção e conquistar uma importante bagagem musical, você terá grandes insights que o conduzirão a caminhos e ideias que nem o grande músico que você está escutando pensou. As ideias que aprendemos vão sendo transformadas aos poucos, ainda que inconscientemente. Quando você se der conta, não estará mais tocando como o Raphael ou como seu mestre. De repente, irá florescer espontaneamente sua marca, seu molho, e então você vai adicionar sua personalidade na história. Aí é quando o negócio fica bom! Mas a calma e a entrega são qualidades vitais nessa empreitada. Como podemos supor, o estilo de um Paco de Lucia, Mozart ou Debussy não é cunhado da noite para o dia. É um processo que leva, no mínimo, muitos anos, mesmo quando estamos falando de gênios acima do bem e do mal e que só vem à Terra de 100 em 100 anos.

Então relaxe e se dedique a sério. Tente entrar em contato com a sua alma. A música, assim como as outras artes, são reflexo do nosso interior. Quando nossas mães falam: “meu filho, você é único”, elas não estão só babando na cria. Cada um de nós vem de uma experiência diferente, cada indivíduo tem um olhar próprio diante da vida e tudo isso vai refletir, querendo ou não, na sua maneira de tocar. Não tenham medo de copiar os grandes. Como diz a sabedoria popular: “no meio dos bons é que a gente fica melhor!”.

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Musicalidade

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